Tron: Ares | Crítica sem spoilers
- T.J. Nunes
- há 1 dia
- 3 min de leitura

Tron: Ares chegou recentemente aos cinemas brasileiros trazendo de volta o icônico universo digital da franquia. A produção combina ação, ficção científica e muita estética neon para revisitar o embate entre humanos e máquinas, agora em um contexto dominado pela inteligência artificial. A franquia Tron sempre foi um espetáculo visual. Desde o clássico de 1982 até Legacy (2010), a série se propõe a discutir a interação humana com a tecnologia. Quinze anos depois, Tron: Ares tenta atualizar essa herança, e até consegue em certos momentos, mas o preço é alto. O resultado é bonito, barulhento e, infelizmente, vazio.

A trama acompanha Ares, interpretado por Jared Leto, um programa que cruza a fronteira entre o digital e o mundo real em busca de compreender o que é ser humano. A premissa poderia render uma boa reflexão sobre consciência artificial, identidade e moralidade, temas mais atuais do que nunca na era da IA. O problema é que o roteiro trata tudo de forma tão superficial que, em pouco tempo, a história perde força. Ares quer entender o que significa existir, mas o filme parece não saber o que quer dizer com isso.

Em vários momentos, Tron: Ares tenta parecer mais inteligente do que realmente é. Há decisões de roteiro que soam forçadas, como uma perseguição de moto que, embora visualmente linda, faz pouco sentido dentro da lógica da trama. É o tipo de escolha feita para justificar o CGI e arrancar aplausos, mesmo que enfraqueça a coerência. E, sinceramente, por que uma IA entraria em perseguição se logo depois o próprio filme mostra que ela pode gerar jetpacks para seus programas, tornando tudo mais eficiente?

Jared Leto entrega um Ares contido e frio, mas não no bom sentido. Falta carisma e sobra pose. Greta Lee, por outro lado, até tenta trazer humanidade à personagem Eve, uma cientista que busca compreender o impacto dessa nova era homem-máquina e acredita poder transformar o mundo através da tecnologia, inspirada pela irmã que já não está mais com ela. No entanto, sua atuação acaba presa a uma expressão constante, sempre com o mesmo semblante sério e distante. Falta emoção, e a personagem perde força justamente quando precisava de mais vida. A direção de Joachim Ronning acerta visualmente: o filme é um show de luzes, reflexos e contrastes, mas tropeça quando precisa dar peso emocional às cenas.

O que sustenta Tron: Ares é o espetáculo audiovisual. O design de produção é impecável, e a trilha sonora, assinada pelo Nine Inch Nails, duo formado por Trent Reznor e Atticus Ross, transforma a experiência em uma rave futurista de altíssimo nível. A fotografia é inspirada, e o mundo digital continua visualmente hipnótico. O problema é que, como uma festa que se estende demais, chega um ponto em que o brilho das luzes não disfarça o vazio da pista.
Há uma tentativa clara de refletir sobre a relação entre homem e máquina, questionando se a criação digital pode herdar nossas virtudes e falhas. É um tema potente, mas o filme o aborda de maneira rasa. Falta coragem para se aprofundar. As consequências das ações de Ares no mundo real quase não têm impacto, e o universo parece não reagir a nada. Isso enfraquece a imersão, e a sensação é de estar vendo algo grande, mas sem peso.

Posso estar equivocado, mas Tron: Legacy ainda entrega uma experiência mais redonda, com aventura e um final satisfatório. No fim, Tron: Ares é o típico caso de “forma sobre conteúdo”, um espetáculo visual hipnótico, cheio de estilo e ritmo, mas sem alma. Funciona se a ideia for mergulhar em um mundo digital deslumbrante, desligar o cérebro e curtir. Mas, para quem esperava um retorno realmente intrigante à franquia, fica o gosto de que poderia ter sido muito mais.
Recomendo se a sua busca for por um show visual. Agora, se a intenção for encontrar profundidade ou uma boa discussão sobre o que nos torna humanos, talvez o melhor seja procurar em outro sistema operacional.


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