Existem filmes cuja intenção é fazer-nos sentir mal e alguns filmes de terror/horror conseguem evocar sentimentos variados, desde um mal-estar genuíno até medo e, mais importante, reflexão. Eu, como fã assíduo desse gênero e suas vertentes, me enquadro no último caso.
É muito difícil, ou quase impossível, encontrar um filme que realmente se destaque nessa enxurrada de filmes de terror lançados anualmente devido ao baixo custo de produção, sequências, cópias rip-offs, etc. Porém, às vezes encontramos uma joia, como "O Mal que nos Habita", o extraordinário filme de horror do nosso diretor vizinho argentino, Demián Rugna.
Depois da A24 se estabelecer como a casa dos filmes experimentais e, principalmente, dos filmes de terror, dando liberdade para diretores como Ari Aster e lançando longas como "A Bruxa", "Hereditário", "Midsommar" e surpresas como "Fale Comigo", imagine minha surpresa quando um filme argentino despontou e causou muito barulho entre os fãs do gênero.
Rugna reconfigura o termo "posse demoníaca" como uma espécie de vírus (não é novidade para quem viu o fenômeno espanhol em found footage, "REC" de 2007, ou até "Evil Dead"). Como "REC", o filme não perde tempo explicando crenças locais, espiritualidade nessa comunidade rural onde os eventos ocorrem.
Poucos filmes conseguem extrair de você essa sensação de urgência. Quando o pânico se instala, você já se vê de mãos dadas com os personagens e envolvido em toda a situação que está ocorrendo na tela.
A parte gráfica e gore do filme é um espetáculo à parte. É essencial para entendermos os medos e crenças dos personagens. São cenas gráficas que não são jogadas à toa para chocar; elas realmente estão na narrativa para sentirmos a seriedade de tudo. Diferente do filme que saiu no mesmo ano e causou até mais burburinho, "Terrifier 2", que tem um roteiro jogado de qualquer jeito, atuações medíocres, mas com cenas de assassinatos e torturas que são até superexageradas para chamar atenção do espectador. Para o público geral que não está acostumado com essa exposição, é muito convidativo. Os fãs de terror, diferentemente, como eu, consideram-no apenas admirável pelos efeitos práticos e nada mais.
A atmosfera sombria de "O Mal que nos Habita" é tão intensa que vai fazer você se sentir desconfortável da abertura até quando sobem os créditos.
A premissa é essa: tudo começa quando os irmãos Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jimmy (Demián Salomón) descobrem uma infestação numa fazenda vizinha. Alguém acidentalmente tropeça num artefato amaldiçoado em latim numa escrita encadernada em couro. Rugna mergulha diretamente nos pesadelos que estão por vir, conforme retratado por um corpo dilacerado e apodrecido, que desencadeia uma corrida contra o tempo para tentar controlar ou fugir desse "mal".
Rugna desafia todos os limites concebíveis do normal com um sorriso no rosto. Ele não poupa ninguém.
Não há nada de novo em "O Mal que nos Habita", o que faz o filme te pegar de surpresa.
Rugna se recusa a desviar a câmera nas imagens mais grotescas que retratam atos de violência chocantes.
A história é um efeito dominó de pessoas comuns encontrando destinos difíceis que atingem os espectadores como um murro no estômago. Novamente vemos uma influência clara de "Evil Dead", já que a "entidade" se espalha como um vírus; eles podem não parecer os Deadites, mas suas agendas perversas são igualmente nefastas.
"O Mal que nos Habita" é uma surpresa, mas, no entanto, não é nem de longe um dos melhores filmes com essa proposta. Filmes como "Martyrs", "Possession", "A Bruxa" e até o clássico "O Exorcista" são exemplos superiores. É uma boa surpresa que vai entrar na minha lista, com certeza. Para quem realmente está em busca de um filme para fazê-lo literalmente sofrer e sentir uma experiência que vai ficar com você, este longa é para você.
Imagino futuramente os fãs do gênero entrando em vários debates calorosos; pois este também é um dos filmes que vai causar divisões. Para mim, depois da segunda assistida, ainda não encontrei falhas; sem dúvida, o melhor filme de terror dos últimos 2 anos.
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