O Bom Bandido | Crítica sem spoilers
- Gabriel Torres
- há 10 minutos
- 3 min de leitura
Alguns filmes aparecem de mansinho e, quando a gente percebe, já estão morando na cabeça. O Bom Bandido, novo longa de Derek Cianfrance, é exatamente isso: uma mistura inusitada de comédia, drama e romance baseada em uma história real tão absurda que só podia ser verdade.

O filme acompanha Jeffrey Manchester (Channing Tatum), um ex-oficial do exército dos EUA que, depois de ser engolido pelas dificuldades da vida civil, passa a assaltar redes de fast-food. Sua tática peculiar, invadir os lugares pelo telhado, lhe rende o apelido de “ladrão do telhado”. Mas Cianfrance não está interessado em fazer um suspense policial ou um thriller sobre crimes. Ele quer entender por que alguém como Jeffrey chega a esse ponto e, mais importante, o que resta de humanidade em alguém que a sociedade decidiu ignorar.
O diretor, conhecido por mergulhar nas falhas e nas fragilidades do sonho americano em filmes como Namorados Para Sempre e O Lugar Onde Tudo Termina, volta aqui à sua zona de conforto: o retrato íntimo de pessoas quebradas tentando se reconstruir. Com a ajuda do roteirista Kirt Gunn, ele transforma uma história de crime em uma reflexão sobre solidão, empatia e pertencimento.

Mas não se engane: O Bom Bandido é leve, divertido e cheio de momentos de humor inesperado. Channing Tatum entrega uma das melhores atuações da carreira, uma mistura de carisma e vulnerabilidade que transforma Jeffrey em um personagem impossível de odiar. Ele erra, mente e rouba, mas é impossível não entender o que o levou até ali. O público se vê dividido entre condenar e torcer por ele.
Ao lado de Kirsten Dunst, que interpreta Leigh, uma mulher que se apaixona por Jeffrey sem saber seu segredo, Tatum encontra o equilíbrio perfeito entre romance e tragédia. A relação dos dois é doce e desajeitada, funcionando como o coração do filme. Ela representa a chance de redenção, o desejo de começar de novo, mesmo quando o passado insiste em bater à porta.

Visualmente, Cianfrance reencontra o fotógrafo Andrij Parekh (de Namorados Para Sempre), que cria uma estética granulada e nostálgica, mergulhando o espectador no final dos anos 90, um período em que os EUA ainda acreditavam cegamente no seu próprio mito de sucesso. É nesse cenário que o diretor volta a expor as rachaduras do sonho americano: o abandono dos veteranos, o consumismo e a ilusão de que trabalho duro é o bastante para vencer o sistema.
Apesar de abrir espaço para essas discussões, o filme não se prende a elas. O foco está na jornada pessoal de Jeffrey, e essa escolha torna a história mais íntima, mesmo que menos política. Cianfrance prefere olhar para o indivíduo e suas contradições, deixando que o contexto social sirva como pano de fundo, o suficiente para entendermos que a falha não é só dele, mas de todo um país.

O elenco coadjuvante também brilha. Peter Dinklage aparece pouco, mas domina cada cena, trazendo o humor preciso que impede o filme de ficar pesado. E o equilíbrio entre o trágico e o cômico é uma das maiores virtudes da direção: Cianfrance nunca deixa o drama se tornar piegas nem o humor se tornar desrespeitoso.
No fim das contas, O Bom Bandido é sobre humanidade, sobre como todos, em algum momento, tentam reconstruir os pedaços quebrados de si mesmos. É um filme que fala sobre erros, segundas chances e o desejo de ser visto em um mundo que não tem tempo pra olhar pra ninguém.
Simples, sincero e cheio de alma, o novo trabalho de Derek Cianfrance é uma dessas joias que aparecem sem barulho, mas deixam marca. O Bom Bandido é prova de que até uma história sobre um ladrão de fast-food pode dizer muito sobre quem somos e o que esperamos do futuro.


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