É difícil apostar contra a A24, mesmo que os trailers, teasers e previews ainda te deixem em dúvida!
A24 tem a reputação de ser um berço do horror artístico, graças aos seus laços com Ari Aster e Robert Eggers e lançamentos como Ao Cair da Noite e Saint Maud. Mas a última descoberta da empresa, o filme australiano Fale Comigo, é gratificantemente rápido em mostrar a que veio, pulando a enrolação em favor de uma premissa com uma simplicidade que vai direto ao ponto.
Uma estatueta está circulando na cena adolescente em um subúrbio da Austrália, uma que supostamente concede a capacidade de se comunicar com os mortos. Este objeto sobrenatural tem a forma de uma mão estendida e é assustadora, ao mesmo tempo em que se parece com algo que você pode encontrar encontrar em site de vendas online. Seus atuais proprietários afirmam que sob a cerâmica está o membro embalsamado de um médium ou um satanista, mas ninguém sabe se isso é real.
Na verdade pouco importa para a narrativa. O que realmente importa é que a coisa funciona, se você a agarrar e disser “fale comigo”, verá o que parece ser uma entidade, e se acrescentar “Eu deixo você entrar”, a tal entidade tomará conta do seu corpo até que outra pessoa arranque a estatueta da sua mão. Existem outras regras envolvendo uma vela e garantindo que a posse não dure mais que 90 segundos, mas alguns personagens veem os poderes da mão como um truque de festa para ganhar views nas redes socias, e como sempre em filmes desse gênero alguém abusa da suposta "brincadeira".
Essa é a premissa de Fale Comigo, que mesmo pareça aparentemente simples, vai te deixar com os olhos colados na tela durante 1 hora e 35 minutos de filme.
Fale comigo tem alguns sustos marcantes, longe dos maçantes "jump scares" e uma sequência particularmente aterrorizante envolvendo uma possessão que deu errado, mas também tem uma diferença discreta sobre como os personagens são rápidos em reagir assim que algo digno de nota que parece estar acontecendo, diferente dos personagens que são escritos como completos idiotas que negam o que está em frente dos seus olhos, mesmo quando passam pela mesmo situação. Aqui temos os pais que diferente dos pais céticos de outros filmes, eles são mantidos no escuro propositalmente, um acerto de Danny Philippou que atua como diretor e roteirista com seu irmão Michael Philippou.
À primeira vista quando os trailers e teasers de Fale comigo foram lançados tive a impressão que seria mais um filme de horror teen, principalmente para essa geração de redes sociais, mas como estou aliviado de estar completamente errado.
O longa constrói sua narrativa de terror, navegando por emoções densas como tragédia, perda, luto, depressão, tudo condensado em roteiro curto e redondo, e sem fugir do foco principal que é o terror e como isso afeta a vida dos envolvidos, e até onde iremos achando que estamos fazendo a coisa certa.
O terceiro ato, principalmente o final deste filme não fica por baixo de nenhum dos clássicos da A24, mostrando um plot twist que nem os fãs mais inveterados de M. Night Shyamalan esperariam e vai te deixar de boca aberta.
Fale Comigo foi uma grande surpresa no gênero de terror até agora em 2023, depois de decepções como Sobrenatural: A Porta Vermelha e O Exorcista do Papa e de ótimos filmes como A Morte do Demônio: A Ascenção e Piscina Infinita e em um ano que ainda veremos o ressurgimento de dois clássicos: O Exorcista e um prequel de A Profecia.
Fale Comigo 2 já está em desenvolvimento, e quando os créditos sobem, mil ideias e teorias surgem na sua cabeça para onde a trama deve seguir.
Fico na torcida para que a Blumhouse siga neste caminho de sucessos que a A24 vem trilhando, especialmente com o tão aguardado ou para mim "desnecessário" O Exorcista de David Gordon Green, que acabou enterrando uma outra franquia clássica de sucesso ano passado: Halloween.
Fale Comigo como qualquer outro filme, mas principalmente desse gênero deve ser apreciado na tela grande para ter a total imersão e foco que um filme desse calibre exige.
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