
Se existe um lugar onde o poder a fé colidem em uma dança macabra, esse lugar é o Vaticano. E é exatamente essa dança entre a moralidade e a ambição que Conclave, dirigido magistralmente por Edward Berger, nos apresenta. Após a morte inesperada do Papa, os cardeais mais influentes de várias partes do mundo se reúnem em um conclave para eleger o novo líder da Igreja Católica.
Mas por trás das portas fechadas da Capela Sistina, reina um clima sufocante de confinamento. Lá dentro, alianças são forjadas, segredos mortais vêm à tona e os homens que deveriam personificar a virtude mostram quão facilmente a fé pode se corromper pela ambição. Enquanto isso, o mundo fora dos muros aguarda ansiosamente pela fumaça branca, mas é abalado por uma onda de atentados ao redor do mundo, escalando a sensação de urgência e instabilidade que permeia toda a narrativa.
Ralph Fiennes, no papel do Cardeal Thomas Lawrence, entrega uma atuação visceral, capturando o peso de um homem lutando para preservar sua integridade em um sistema que parece desmoronar ao seu redor.

O elenco principal é um espetáculo à parte. Além de Fiennes, John Lithgow e Stanley Tucci brilham, trazendo camadas de complexidade e moralidade ambígua a seus personagens. Lithgow encarna o Cardeal Tremblay com um equilíbrio impressionante entre cordialidade e manipulação, enquanto Tucci demonstra humanidade e vulnerabilidade ao progressista Cardeal Bellini, que, embora deseja renovar a Igreja, carrega cicatrizes emocionais profundas. Por outro lado temos Sergio Castellitto como o cardeal Tedesco, que deseja trazer de volta a igreja do passado, e subjugar as outras religiões principalmente a Islâmica com punho de ferro, querendo "instaurar" uma nova guerra santa. Isabella Rossellini, como a enigmática Irmã Agnes, que apesar se mostrar submissa por ser mulher no meio deste conglomerado de homens misóginos, rouba a cena toda vez que está em tela. Sua presença serena e olhar penetrante escondem segredos que podem abalar os alicerces de toda a instituição, enquanto sua atuação captura tanto a fragilidade quanto a força de uma mulher que conhece os perigos da fé cega, e com a chegada inesperada do cardeal Benitez lança mais uma nova sombra sobre a já delicada atmosfera do conclave, prometendo intensificar ainda mais as tensões.

Não por acaso, essas atuações extraordinárias levaram o filme a conquistar oito indicações ao 97º Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor para Edward Berger, Melhor Ator para Ralph Fiennes e Melhor Atriz Coadjuvante para Isabella Rossellini, consolidando o trabalho do elenco e da equipe criativa como um dos maiores destaques do ano.

O roteiro de Peter Straughan adapta com precisão o romance homônimo de Robert Harris, mergulhando o espectador em uma teia de intrigas, corrupção e a fome pelo poder. Conclave não se limita a explorar os bastidores da política eclesiástica, ele também nos confronta com o lado mais sombrio das instituições religiosas, questionando o papel da fé em um mundo contaminado pela busca pelo controle.
A religião, aqui, surge não como refúgio espiritual, mas como uma máquina institucional que, longe da vista dos fiéis, opera sob as mesmas dinâmicas humanas, e muitas vezes mais nefastas que qualquer outro sistema de poder. Enquanto isso, o contraste entre o confinamento dos cardeais a cada nova votação e o caos crescente lá fora, com atentados atingindo diversas cidades, cria uma tensão ainda maior sobre o papel da Igreja católica no mundo. O isolamento autoimposto do conclave parece um mundo à parte, mas suas decisões ecoam nas vidas de milhões, destacando a desconexão entre o ideal de fé e a realidade de um mundo em chamas.

Berger conduz o filme com uma precisão cirúrgica, construindo tensão de forma quase sufocante. A direção de arte e a cinematografia de Stéphane Fontaine, indicados ao Oscar por seu trabalho, capturam a opulência do Vaticano com uma grandiosidade que contrasta com a podridão moral de seus corredores. Enquanto isso, a trilha sonora de Volker Bertelmann, também indicada, realça os momentos mais intensos, levando o público a um estado de ansiedade e desconforto crescente. E quando o final chega, é um verdadeiro choque, uma revelação que desafia qualquer expectativa. Não é apenas chocante, é transformador, deixando o espectador com uma mistura de indignação e fascínio, enquanto questiona até onde os homens são capazes de ir quando a ambição supera a fé.

Conclave é mais do que um thriller político. É uma análise crua e profundamente humana de como o poder pode corromper até mesmo aqueles que deveriam representar o que há de mais puro na humanidade. Com atuações brilhantes, uma narrativa densa e um final que ficará gravado na memória por sua coragem, o filme não apenas nos prende, ele provoca, desafia e desconstrói nossas noções sobre o que significa acreditar. Não à toa, sua excelência técnica e artística o tornou um dos grandes favoritos do Oscar, com indicações que reconhecem sua profundidade, suas atuações magistrais e sua capacidade de deixar o público reflexivo bem depois dos créditos subirem. É uma obra-prima que transcende o gênero de conspirações, oferecendo uma experiência cinematográfica visceral e que ficará com você por um bom tempo.


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