A Morte de um Unicórnio | Crítica sem spoilers
- T.J. Nunes

- 2 de ago.
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de ago.

A mais nova produção do estúdio A24 já está nos cinemas, e só por isso já me bate uma curiosidade, o que pode vir de um estúdio que, goste você ou não, tem uma personalidade muito distinta. Há quem ame, há quem odeie. Sem enrolação, o filme A Morte de um Unicórnio conta a história, bem… da morte de um unicórnio. Sim, o título entrega tudo, e não, isso não estraga nada, porque, no fim das contas, esse é só o começo da bagunça. O título é direto, sem rodeios, assim como o próprio longa. Ele se desenrola a partir desse acontecimento. E, sim, chega a ser meio besta, primeiro, porque unicórnios não existem; segundo, porque, mesmo dando aquela suspensão de descrença e aceitando que, especificamente, esse unicórnio existe… até onde essa história vai levar?
O filme chegou sem muito alarde, e veja bem, também não será aquele filme “cult” que daqui a alguns anos vai ser redescoberto. Ele é o que é, um filme simples, com começo, meio, fim e ponto. Não há uma história anterior, não há um gancho para depois. E isso não é um problema. Pelo contrário, é até bom poder aproveitar um momento fechado e bem contado.

A sensação talvez se assemelhe à de um slasher, não pelo enredo em si, mas pela dinâmica crescente de tensão. Acompanhamos os protagonistas, Ridley e Eliot (filha e pai), em um fim de semana que começa com um acidente envolvendo um unicórnio (gente, isso não é spoiler, tá?) e desencadeia uma sucessão de desgraças que lembra bastante o clima desses filmes. Não que A Morte de um Unicórnio seja um slasher, nem terror, mas ele flerta com essas possibilidades. Temos um local afastado, personagens caricatos, mortes beirando o ridículo… tudo isso embalado por uma comédia de humor cínico, quase grotesco. Quem gostou de Premonição 6 (que, inclusive, tem crítica aqui no site), por exemplo, deve curtir a vibe desse filme.

Tecnicamente, o filme não tem nada de impressionante, e nem é essa a proposta. Ele entrega o básico necessário para que a história seja entendida sem grandes interpretações. Os efeitos especiais são perceptivelmente limitados, mas funcionam dentro do orçamento. A fotografia ajuda a esconder o CGI quando necessário, sem forçar a barra. Não estraga o filme, mas é visível que, com mais verba, os elementos visuais estariam melhor integrados.

A comédia do filme funciona. As tiradas têm timing preciso quando precisam acertar, e erram de propósito quando o desconforto faz parte da graça. O humor surge de forma espontânea, sem forçar a barra. As situações engraçadas simplesmente acontecem e passam, o filme não trata o espectador como bobo, não levanta plaquinha dizendo “risadas agora” e muito menos apela para trilhas de riso como em certas séries.
O que vemos é um humor cínico, que confia na inteligência de quem assiste. Os personagens reagem de forma inesperada, você ri, e enquanto ainda está rindo, o filme já seguiu em frente com mais uma cena esquisita. É quase como se dissesse: “sim, isso é idiota, mas a gente sabe, você sabe, e é por isso que funciona.” Algumas risadas serão escancaradas, outras, só internas. E tudo bem assim.

Quanto às atuações… bom, não são o ponto alto, mas por culpa dos personagens, não dos atores. Jenna Ortega (Ridley) e Paul Rudd (Eliot) se saem melhor que os demais, mas os papéis que lhes foram dados, no geral, têm a profundidade de um pires. Ridley, com um pouco mais de esforço, talvez chegue ao nível de uma xícara. Ela parece deslocada, e Eliot, perdido. Ainda assim, vale mencionar a participação de Will Poulter, Richard E. Grant e, especialmente, Anthony Carrigan (como o mordomo Griff), que, pelo menos pra mim, garantiu bons momentos. Já Sheppard Leopold vai dividir opiniões, ou você acha ele um idiota divertido… ou só um idiota mesmo. A relação entre Ridley e Eliot é caótica e, em muitos momentos, soa forçada, como se os roteiristas estivessem seguindo um manual. Mas a comédia compensa.

Não dá pra dizer que esse filme é um nonsense completo… mas ele flerta com isso em todos os momentos. Eu até queria chegar aqui e dizer: “na verdade, o filme é sobre um relacionamento conturbado entre pai e filha, por causa disso, disso e daquilo”. Mas, sinceramente? Não é. A Morte de um Unicórnio é um delírio coletivo em forma de filme. Com personagens rasos, situações absurdas e um monstro que supostamente é uma ameaça gigante, mas que não consegue empurrar uma porta sendo segurada por dois caras. Pelo amor de Deus, né?

Ainda assim… apesar de tudo isso, como comédia, ele entrega. O filme sabe exatamente o que é. Tem começo, meio e fim. É tosco quando precisa ser, é engraçado quando se permite, e até arrisca um suspensezinho aqui e ali. Só não espere debates profundos, reflexões existenciais ou grandes arcos de personagem. Nada disso. Aqui, a graça está na bagunça.

No fim das contas, o filme não quer mudar sua vida. Ele quer que você ria da tragédia, do absurdo, da falta de sentido, e consegue. Você vai assistir, se divertir, terminar e seguir em frente… com a estranha sensação de que acabou de presenciar algo tão esquisito quanto divertido. Talvez isso seja a tal magia dos pôneis malditos.


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